(Nem) tudo é sobre Pinto da Costa vs. Villas-Boas 01/12/2023 20:41 O Tribunal do Dragão

    Não há um elefante na sala. Há uma manada. Todos os caminhos vão agora dar a Pinto da Costa vs. Villas-Boas. Curioso quando nenhum dos dois é, à data, oficialmente candidato às eleições, embora ambos e respetivas «tropas» já se posicionem nesse sentido. E como os atos eleitorais do FC Porto não são mais do que uma mera formalidade há 40 anos, é algo novo na vida de muitos portistas e vai ser forçosamente o tema dominante nos próximos meses.


    Ao contrário do que muitos possam advogar, não há «altura certa» para falar disto. O FC Porto, felizmente e por norma, está sempre a competir por algo até abril. Achar que há tertúlias que têm que ser limitadas ou quase tabu porque a equipa tem que estar «concentrada e unida» é insultar a capacidade de Sérgio Conceição e dos seus atletas em manterem o foco nos objetivos desportivos. Quanto a isso, podemos estar descansados. No balneário só há dragões, não há urnas nem candidatos. Nenhum futebolista fica acordado a ver a CMTV ou a fazer scroll nas redes sociais para perceber qual é a estratégia financeira da SAD e sobre em quem recai o sentido de voto.

    É a altura certa para falar disto porque é a altura em que emergem duas coisas que não se viam há 40 anos: a SAD com receio de um candidato e um candidato capaz de aglomerar a contestação crescente face ao desempenho da SAD. Prova disso é que uma simples Assembleia Geral para aprovação das contas 2022/2023, com objetivos e graus de complexidade bem diferentes da AG para alteração dos estatutos do clube, deu mais ares de um Pinto da Costa vs. Villas-Boas do que outra coisa qualquer.

    E a afluência é testemunha disso. Foi uma vitória de Pinto da Costa, porque as contas foram aprovadas. Mas foi também uma vitória de Villas-Boas, porque tomou a palavra e mostrou que a sua candidatura não vai recuar apesar das tentativas de intimidação e ataques de que tem sido alvo. Nada diz «estamos em período eleitoral» como ver dois candidatos terem vitórias na mesma noite. 

    E sim, os portistas estão investidos neste tema. Basta ver os números ou ler as reações ao último texto d'O Tribunal do Dragão. Houve 819 sócios a votar numa noite de quarta-feira. 53% de aprovação, 187 votos contra e 198 abstenções. Embora as contas tenham sido aprovadas e que a SAD se tenha congratulado com isso, basta ver o passado recente para sentir a contestação crescente: na aprovação das contas de 2021/22, não houve um único voto contra e apenas 5 abstenções; já em 2020/21, houve apenas uma abstenção. Os resultados são diferentes, mas a equipa diretiva é a mesma. 

    Há hoje mais adeptos a contestar Pinto da Costa nos palcos de decisão; mas isso não significa que não haja mais gente também a apoiar Pinto da Costa. Até à data, nenhum apoiante de Pinto da Costa sentia que o seu cargo estivesse sob ameaça. Hoje isso é uma realidade. Daí que não haja dúvidas que Pinto da Costa terá, em 2024, muitos mais votos do que os que teve em 2020; se isso significa que terá maior percentagem de votos, só o tempo o dirá.

    Os dois tomaram a palavra na AG: AVB para criticar o desempenho da SAD, Pinto da Costa para criticar AVB. Entramos no campo da opinião, claro: Villas-Boas teve uma intervenção pertinente e objetiva. Falou de factos, de números. Não foi para lá falar de ninguém, mas sim das contas da SAD. Nada do que AVB disse é desmentível. Chegando ao final da sua intervenção, patinou: o desafio de AVB à SAD, ao dizer que só aprovaria as contas mediante a devolução dos prémios, soou prontamente a populismo. Villas-Boas tinha acabado de enumerar o descalabro financeiro da SAD e de revelar que chumbaria as contas como forma de protesto; dizer logo a seguir que afinal aprovaria as contas se a SAD renunciasse aos prémios que recebeu mostrou incoerência. As contas só eram passíveis de serem boas ou más mediante a remuneração variável de 1,6 milhões? Não. Eram más, ponto. E seriam más independentemente da SAD receber 10 cêntimos ou 10 milhões pelo seu desempenho. 

    Pinto da Costa, no discurso final, visou diretamente Villas-Boas com acusações graves e que implicam esclarecimento. Primeiro, criticou AVB porque «veio para dizer mal». Não, AVB não disse mal: AVB enumerou números e factos. E se isso é dizer mal, é porque as contas são más. Mas a declaração chave foi esta: «Não venha ler papéis com números que lhe põem à frente.» Será que Pinto da Costa pode elucidar o universo portista sobre quem pôs esses números à frente de Villas-Boas? Parece saber coisas que não sabemos, até porque AVB ainda não apresentou nenhuma lista. Mais: levar um papel com números se calhar revela preparação; passar uma entrevista de uma hora a dizer «não sei», «não me recordo» ou «prefiro não responder porque não tenho a certeza dos números» revela outra coisa.

    No dia seguinte, Pinto da Costa continuou e recordou as declarações de Villas-Boas, em que afirmava que não concorreria contra o presidente: «Se calhar achou que eu ia morrer mais cedo, mas ainda vai ter de esperar para ir ao meu funeral». Este sim, é o verdadeiro fait-diver. Porque os dois candidatos já disseram algo que agora têm que desmentir. Não vale a pena citar Pimenta Machado. 

    Após a saída de Villas-Boas do comando técnico do FC Porto, Pinto da Costa deu uma entrevista ao L'Équipe em que dizia que iria sair da presidência do clube num prazo de 5 anos. Já lá vão 12. Em 2016, conforme citado pelo JN, disse que só se candidatou porque não havia mais ninguém. Quatro anos depois, apareceram Nuno Lobo e José Fernando Rio. Pinto da Costa disse então que afinal só não avançaria se um destes quatro nomes se candidatasse: António Oliveira, Rui Moreira, Vítor Baía ou... Villas-Boas. Pinto da Costa diz que AVB estava talvez a contar com a sua morte, mas também já se percebeu que Pinto da Costa só dizia isso porque não contava que realmente alguém o enfrentasse. 

    Vale também sempre a pena recordar as palavras de Pinto da Costa no último dia em que foi às urnas, em 2020: «(AVB) é um sócio com as quotas em dia, não teve de ir a correr pagar cinco anos de atraso como alguns, tem capacidade e se tiver esse desejo e essa motivação, tem todo o direito e seria uma boa opção». Se é uma boa opção, tem que se tratado como tal; feliz do portista que tiver a possibilidade de escolher entre 2 boas opções nas próximas eleições.

    Não haverá nada mais pertinente, por isso, do que ter um debate entre Pinto da Costa e André Villas-Boas antes das eleições em abril. Com ou sem papéis, frente a frente, olhos nos olhos um com o outro e sob o olhar dos portistas. De recordar que Pinto da Costa recusou, em 2020, entrar em debates com Lobo e Rio no Porto Canal. Aliás, disse que não recusou, simplesmente «não teve tempo», embora tenha dado 4 entrevistas antes do ato eleitoral - O Jogo, JN, ao Portal dos Dragões e... ao próprio Porto Canal. É por isso melhor começar a pensar em libertar já a agenda. Está só em causa o futuro do FC Porto. E para o FC Porto é sempre preciso tempo.

    Foram só 60 minutos 22/11/2023 06:04 O Tribunal do Dragão


    Pinto da Costa quebrou um silêncio de largos dias e concedeu uma entrevista à SIC. Foi, antes de mais, uma ótima entrevista do presidente do FC Porto. Ótima porque ninguém se aleijou. Ninguém foi parar ao hospital, ninguém morreu. Melhor só mesmo se não houvesse nenhuma câmara a filmar. 

    A melhor das notícias acaba por ser o notável avanço na construção da Academia do FC Porto na Maia. É que com a quantidade de areia que Pinto da Costa distribuiu e a forma como parecia estar a falar para uma plateia de tijolos, só podemos concluir que já há material de sobra para iniciar a construção da Academia a todo o vapor.

    É triste. Ídolo para uns, herói para outros, lenda para tantos. O Porto e o Mundo aprenderam a admirar Pinto da Costa, dono de uma sagacidade, eloquência e capacidade de mobilizar qualquer multidão ímpares no universo futebolístico. Ver a forma desnorteada e incoerente com que tentava responder a cada questão... Uma coisa é desafiar os limites óbvios da idade ao tentar falar durante uma hora, capacidade que PdC mantém de forma admirável, outra é tentar justificar a gestão de um grande clube, tarefa em que o presidente falhou em quase toda a linha.

    «Sócios contra sócios.» Pinto da Costa desejou que não tivesse havido câmaras na Assembleia Geral, mas pior do que isso, age como se não tivesse mesmo havido. Dar a entender que o que despontou as agressões foi meramente a intervenção do adepto Henrique Ramos, quando nessa altura elementos que tardam em ser identificados já tinham varrido uma bancada com o recurso a ameaças e insultos, é próprio de quem está em contramão e julga não só que ninguém repara como ainda vão seguir-lhe o rasto.

    «Houve, através das redes sociais, incitamentos a que as pessoas viessem, filmassem tudo o que pudessem.» Perdão? Para já, e honra seja feita a esta coerência, Pinto da Costa está-se completamente a borrifar para tudo o que envolve redes sociais. É um universo que não acompanha, e que ignora. Logo, para se sair com esta pérola, foi porque alguém lhe passou esta informação. Essa pessoa insulta não só a inteligência dos adeptos como não hesitou em fazer Pinto da Costa passar por figura de parvo, pois foi o próprio adepto e sócio Fernando Madureira, através das suas redes sociais, a prometer que os sócios dos Super Dragões iriam estar «presentes em massa».

    Pinto da Costa insistiu depois uma, duas, três vezes que iria votar contra três das alterações nos estatutos, alegando que estava portanto a apaziguar os ânimos. Desde logo, Pinto da Costa falou quando ainda centenas de sócios estavam às portas do pavilhão, algo por si só já de lamentar. Mas o mais incrível é confirmar que a direção convocou uma Assembleia Geral Extraordinária para levar a votação propostas com as quais o próprio presidente, segundo conta, estava contra. Sim, o Conselho Superior é o responsável pela elaboração da proposta de alterações dos estatutos, mas quem decidiu levá-los a sufrágio foi a direção liderada por Pinto da Costa. E a pertinência é tanta que Pinto da Costa não só estava contra como acabaram por cancelar a AG. Isto parece saído de um episódio do Clube dos Campeões, série da SIC do final dos anos 90.

    Entre muitos momentos dignos de audição parlamentar - «não sei», «não vi», «não tenho a certeza» -, concluímos das palavras do presidente que o grande problema foi que havia câmaras a filmar. Portistas a serem insultados, agredidos e coagidos? Tudo bem, mas levem na boca como gente grande e deixem tudo em família! Compreende-se melhor agora a linha editorial do Porto Canal, que ignorou todo e qualquer acontecimento na noite de 13 de novembro. Não, presidente, o problema não eram os «inimigos» que iam assistir a tudo pela televisão, eram os inimigos que estavam lá dentro do pavilhão; inimigos da democracia e dos valores do FC Porto.

    A preocupação para com os «inimigos» externos é tanta que Pinto da Costa consegue, na mesma intervenção, errar sobre as contas do Benfica para defender as do FC Porto (não, Gonçalo Ramos não entrou no exercício da época passada do rival), ironizar sobre os 0 pontos na Champions e logo a seguir dizer que se recusa a falar dos rivais. O percurso do FC Porto na Champions é meritório por si só, não precisa do contraste dos rivais; mas esses dois rivais estão, neste momento, à frente do FC Porto rumo a uma vaga na Champions em 2024/25, cujo impacto financeiro será quase 10 vezes maior do que uma ida aos oitavos daqui a um mês. 

    Houve, também, espaço para colocar Fernando Madureira num pedestal e elogiar os Super Dragões que, segundo Pinto da Costa, são os únicos a ir apoiar a equipa nos jogos fora. Não podendo nunca ignorar o facto de uma claque ser sempre mais vocal no apoio do que qualquer grupo de adeptos, é um desrespeito para com os milhares de adeptos que, desde o Minho ao Algarve, acompanham as deslocações do FC Porto sem pertencerem a uma claque. E atenção, que muitos destes adeptos possivelmente não ganham mais do que o que declaram, não têm cadernetas prediais variadas, Porsches na garagem ou ajudas de 6 dígitos para construírem casas. Entende-se que os Super Dragões são a grande força mobilizadora para a recandidatura de Pinto da Costa, mas num clube que se orgulha por um sócio valer um voto isto tem muito que se lhe diga.

    Sobre a questão contratual de Sérgio Conceição, nada que não seja deixar treinador e jogadores fora de qualquer discussão eleitoral será inaceitável. Treinador e atletas carregam a mais difícil das missões nesta temporada - colocar o FC Porto na fase de grupos da Champions, caso contrário o presidente para a época 2024/25 começará logo aí com um buraco de quase 100 milhões de euros. Mas uma vez mais, a incoerência de Pinto da Costa: «Acha que algum treinador de algum clube vai renovar o contrato sem saber com quem vai trabalhar?» Poderíamos recordar que Jesualdo renovou contrato entre períodos eleitorais distintos e que Lopetegui assinou um contrato superior ao mandato de Pinto da Costa. Mas basta recordar que em 2019 Sérgio Conceição comprometeu-se com o FC Porto até 2021 - pelo meio, Pinto da Costa venceu as eleições em 2020. Não deixam de ser sinais dos tempos - talvez hoje uma reeleição não seja um dado tão adquirido quanto em épocas anteriores.

    Ainda assim, há um detalhe que merece máximo destaque nesta entrevista: a garantia de Pinto da Costa de que o FC Porto vai apresentar capitais próprios positivos no final do primeiro semestre. Em apenas 5 anos, a SAD cavou um buraco de mais de 110 milhões nos capitais próprios (os rivais, perdão, os inimigos deram lucro no mesmo período) e ultrapassou os 175 milhões, os piores valores da história das SAD em Portugal. Mas Pinto da Costa garantiu que o FC Porto vai conseguir o milagre de recuperar praticamente 200 milhões de euros no espaço de 6 meses. Esta vai valer a pena esperar para ver. Só há 3 cenários possíveis: a venda de parte da SAD (que PdC desmentiu), a venda do Estádio (de recordar a operação EuroAntas em 2014/15) ou, simplesmente, o maior milagre financeiro da história da gestão desportiva em Portugal. Sim, não vamos admitir que o presidente do FC Porto estaria a confundir saldo contabilístico com capitais próprios.

    O processo do naming do Estádio é uma luta que anda a ser travada pelos «três grandes» há vários anos, e os valores de 5 a 6 milhões por ano vão encontro de uma expetativa bem otimista. Escusado será dizer que a estratégia não passa por contar com esta pequena receita em forma de Loum/Manafá/Depoitre numa verba anual, mas sim antecipar o bolo através de um contrato de factoring para ter maior margem para o curto prazo. Face à forma evasiva mas insistente com que Pinto da Costa tocou no tema, esperam-se novidades para este dossiê no próximo mês.

    Destaque ainda para, uma vez mais, o desnorte de uma direção que não fala a uma só voz. Disse que Taremi não saiu para o Milan porque as propostas eram «ridículas» e «nem dava para conversar». Esqueceu-se portanto das declarações de Vítor Baía, que disse a 31 de agosto que já havia acordo entre Milan e FC Porto e que tudo dependia do jogador. Em que ficamos? 

    De argolada em argolada, Pinto da Costa errou em quase todos os alvos e deixou a promessa de uma recuperação financeira histórica e em tempo recorde. Não só foi uma fraca entrevista como foi, possivelmente, a sua pior entrevista em 4 décadas de FC Porto, revelando um presidente perdido no espaço e no tempo. Foram só 60 minutos. E o que são 60 minutos ao pé de mais 4 anos?

    Quando um portista aparece 20/11/2023 01:52 O Tribunal do Dragão

    «Bola no Porto... Passe mortal... Marco Ferreira aparece! Douglas falha! Ninguém para empurrar! Vamos Derlei! Bate! Bate! Bate!...»

    O resto é história. Uma história que todos os portistas sabem de cor e que abriu um dos mais belos capítulos de um livro de honra de vitórias sem igual. Sevilha, Gelsenkirchen, Yokohama. O bis na raça de Derlei, a classe de Deco, o olhar de Pedro Emanuel... Mas há um detalhe que antecedeu tudo isto, imortalizado no relato acima citado.


    Marco Ferreira «apareceu». Não rematou, não passou, não driblou; não recuperou a bola, não ganhou um ressalto, não se sabe muito bem se chega a tocar nela ou o que fez no lance. Mas o detalhe é este: apareceu. Marco Ferreira apareceu e este lance mudou a história do FC Porto. Bastou aparecer. 

    Segunda-feira, 13 de novembro de 2023, os portistas apareceram. Contra muitas expetativas, desejos e planos, apareceram. A ordem de trabalhos visava a aprovação dos novos Estatutos do Clube e a tradicional "meia hora" para discutir assuntos de interesse. Mas cedo se percebeu que as motivações para tal afluência ultrapassavam o desejo de participar num simples sufrágio. 

    A cronologia dos eventos já é por demais conhecida entre adeptos, associados e imprensa - os únicos que ainda não a conhecem aparentam ser os próprios responsáveis do FC Porto, que perante os registos das câmaras, os testemunhos de presentes e, pasme-se, os seus próprios olhos continuam sem conseguir identificar responsáveis com vista à abertura de processos disciplinares. Tudo redonda no mesmo: silêncio, indiferença, cobardia, medo.

    Medo de quê? Medo de uma derrota anunciada que um grupo de «gratos» fez questão de se esforçar por tentar acelerar. Um atropelo aos mais básicos princípios da democracia e aos direitos e deveres de qualquer sócio do FC Porto. Sim, do FC Porto. O que une, ou deveria unir, todos os associados presentes é o amor ao FC Porto. Ao clube, não a um homem, seja ele qual for. E sobretudo não a um homem que, perante o poder de parar as tristes cenas que despontavam nas bancadas do Dragão Arena, respondeu com desdém e indiferença. Os seus adeptos atacados na sua casa: silêncio de Pinto da Costa e da sua cúpula administrativa.

    Foi esta a grande derrota da noite. Pinto da Costa, para muitos, já não é um presidente à altura do FC Porto, mas poucos imaginariam que não seria um presidente à altura dos portistas. Por muito que os adeptos se possam dividir face ao seu futuro no clube, todos concordariam que quando Pinto da Costa pede a palavra, o portista deve o respeito de ouvir. Continua a ser o presidente democraticamente eleito e a figura máxima da história do clube; e o que fez com este estatuto e reconhecimento enquanto portistas eram ameaçados, intimidados e coagidos? Nada. Fechados na mesma redoma com que gerem o dia a dia do clube. 

    Tudo isto, e não enganemos ninguém, por causa de um nome: André Villas-Boas. O futuro e único candidato à presidência do FC Porto que realmente inspira receio aos que se querem agarrar ao poder (ou, no caso dos que gritavam «Ingratos!», agarrados aos frutos do poder). Com o devido respeito por Nuno Lobo e José Fernando Rio, não eram nomes temidos por ninguém no FC Porto, mas ainda assim «tiraram» quase um terço dos votos a Pinto da Costa no último ato eleitoral. Se dois nomes pouco cativantes e mediáticos conseguiram isto, o nome Villas-Boas fez soar o alerta no Dragão.

    Da candidatura de Villas-Boas nada se sabe publicamente. Nada. Nem quem o acompanha, qual o projeto, nada. Poderíamos dizer o mesmo sobre Pinto da Costa, que é eleito não pelo que faz hoje nem pelo que fará amanhã, mas pelo currículo de décadas passadas. Mas no FC Porto sabe-se (teme-se) o essencial: que Villas-Boas pode efetivamente fazer estragos contra Pinto da Costa.

    Uma heresia, dizem aqueles determinados a manter Pinto da Costa na presidência do FC Porto nem que cheguem a uma sequela de Weekend at Bernie's. «Pinto da Costa tem que ser o presidente até ao último dia da sua vida, a não ser que queira sair antes!» Pois. A questão é que Pinto da Costa não quererá sair. Primeiro, porque ama o FC Porto e dedicou a sua vida a esse cargo. Segundo, porque vive fechado numa redoma que o venera e bajula a cada piscar de olhos. Não conhece contestação, discórdia ou insatisfação no seu dia a dia; continua a ser «o melhor presidente do Mundo». Mas não, a presidência de Pinto da Costa não pode ser um desejo do próprio, nem de uma dúzia seletiva, mas sim de uma maioria de portistas.

    Pinto da Costa foi uma grande ameaça ao benfiquismo e ao centralismo; agora querem fazer dele uma ameaça ao portismo? Ai, a gratidão! Não, para ser eleito presidente do FC Porto não é preciso um exercício de gratidão. Quem o diz é o próprio Pinto da Costa, que sempre defendeu que a sua liderança assenta em quatro pilares: «Rigor, competência, ambição e paixão». Estes quatro parâmetros estão a ser cumpridos sob a sua presidência? Cada portista terá a sua opinião e cada sócio o seu voto; desde que o possam exercer livremente. 

    Mas voltamos ao ponto de partida. A coação, a ameaça e a intimidação estão literalmente instaladas nas bancadas do Dragão. Terá a AG sido uma vez sem exemplo? Não se o FC Porto e os seus dirigentes não agirem em conformidade. Mas para quem tem esperança que tal aconteça, é aconselhável que adotem a mesma postura da administração da SAD enquanto portistas eram agredidos e arrastados para fora do pavilhão: de cadeirinha, para não se cansarem.

    «Mas não têm os portistas o direito a continuarem a apoiar Pinto da Costa se quiserem?» Claro que sim. Mas então esforcem-se um pouco por defenderem o vosso candidato preferido. Porque aquilo que os já declarados anti-AVB estão a fazer é a passar um gritante atestado de incompetência a Pinto da Costa. Então querem que Pinto da Costa seja presidente do maior clube português se não é sequer capaz de derrotar um (ex-?)treinador sem experiência no dirigismo? Não confiam na eloquência e no dom da palavra de Pinto da Costa para esgrimir argumentos com AVB num eventual debate? Não tem Pinto da Costa mais dias de FC Porto do que Villas-Boas de vida? Então, qual é o receio da candidatura de AVB? Sinceramente, Pinto da Costa, por tudo o que já fez, merecia mais respeito e consideração por parte dos seus fiéis escudeiros. O presidente do FC Porto tem que ser a pessoa mais poderosa do clube, não alguém que querem esconder de qualquer batalha. 

    «O problema são as pessoas que estão por trás da candidatura de AVB!» Pois. Disso, publicamente, ainda nada se sabe, ou se algo há para se saber. Mas uma coisa é certa: não se sabe quem está por trás da candidatura de AVB, mas sabe-se que quem está à frente da SAD deixa muito a desejar. E neste caso nem se fala da performance desportiva ou da saúde financeira (perdão, doença, porque de saúde há pouco), mas sim das mais básicas funções para qualquer presidente eleito democraticamente: assegurar que a mesma democracia que o elegeu não é beliscada sob a vigência. 

    A Pinto da Costa e a Villas-Boas, fica o desafio: puxem o melhor Marco Ferreira que há em cada um de vós. Um se quer manter o lugar, outro se quer avançar. Apareçam. Que Villas-Boas apareça, como promete que o vai fazer; e que Pinto da Costa apareça, mesmo que os seus apoiantes não queiram que precise de o fazer. E se antes de Abril pudermos ter um debate televisivo no Porto Canal, perfeito. É que o material de filmagem e edição que foi poupado na última segunda-feira poderia assim finalmente ter uso. 

    Largos dias também chegam ao fim... 15/11/2023 16:06 O Tribunal do Dragão

    ... para que novos dias possam nascer. 


    Relatório e Contas 2018-19 (três anos depois...) 11/10/2019 16:50 O Tribunal do Dragão

    Faz amanhã, 12 de outubro, três anos. Fernando Gomes, responsável financeiro da SAD do FC Porto, assumiu, mediante a apresentação de custos com pessoal de 75,8 milhões de euros, que era altura de «conter e tomar um novo rumo». A folha salarial atingiu custos incomportáveis para qualquer clube português e, sobretudo, para um clube que viria a ser visado pelo incumprimento do fair-play financeiro da UEFA. Por isso, foi altura de traçar um plano:

    Jornal O Jogo, 12-10-2016
    Fernando Gomes traçou e assumiu o plano e os objetivos. A folha salarial do FC Porto tinha ultrapassado os 75 milhões de euros. Era, por isso, intenção da SAD fazer com que ela fosse reduzida em 20 milhões de euros, passando o FC Porto a ter assim custos com pessoal na ordem dos 55 milhões de euros. «Três anos», foi o prazo traçado por Fernando Gomes e pela SAD. Cumpridos esses três anos, eis os resultados.

    Relatório e Contas da FC Porto, SAD, 2018-19
    A conclusão é óbvia. Não só a SAD não conseguiu reduzir a folha salarial em 20 milhões de euros como quase a conseguia aumentar nesse valor. Ao invés dos estimados 55 milhões de euros, o FC Porto fechou a época 2018-19 com custos com pessoal de 91,64 milhões de euros, os mais altos da história da SAD.

    Fernando Gomes, aqui citado pelo JN, tem uma justificação: «Deveu-se, sobretudo, a três situações. As rescisões de contrato com os jogadores Bueno e o Bazoer, ao ajustamento dos contratos pela conquista do campeonato da época passada e os prémios extraordinários face à passagem da fase de grupos da Liga dos Campeões».

    Portanto, rescindir o contrato de dois jogadores, um deles que até estava apenas emprestado, passar a fase de grupos da Liga dos Campeões (e a chegada aos quartos-de-final, certamente também considerada) e a revisão dos contratos pela conquista do Campeonato justificam este abismal aumento? Nada que surpreenda, tenho em conta que já tinha sido esta a linha de orientação de Fernando Gomes na apresentação das contas da época passada: ««Tínhamos previsto reduzir os Custos com Pessoal e eles subiram por uma questão muito simples: como fomos campeões nacionais, tivemos de pagar prémios ao plantel e à equipa técnica. Isso representou um encargo adicional de 6 milhões de euros, mas ainda bem que o tivemos». 

    Apresentar as contas da SAD portista aparenta ser uma das tarefas mais fáceis no universo financeiro. Não se cumprem metas ou objetivos? Ou se culpa o insucesso desportivo (a não-qualificação para a Champions terá o devido impacto na apresentação do orçamento 2019-20), ou culpa-se o sucesso desportivo («pagámos mais do que o previsto porque tivemos que pagar prémios»). Não esquecer que o FC Porto, à partida, prepara cada época a pensar em ser campeão nacional e em passar a fase de grupos da Liga dos Campeões. Chegar ao final da temporada e alegar a surpresa de ter que ter pago prémios por rendimento desportivo, quando este já estaria orçamentado, é um tanto ambíguo. 


    Aguardamos a publicação do Relatório e Contas completo da época 2018-19 para a devida e mais profunda análise. Ficam, para já, os principais tópicos dos Proveitos e Despesas Operacionais.

    No orçamento de 2018-19, a SAD estimava custos de 135 milhões de euros (sem incluir despesas com transações de passes). Os custos atingiram os 150 milhões de euros, essencialmente pelo aumento nas despesas com pessoal e por mais uma subida nos FSE. 

    Em relação aos Proveitos Operacionais, estamos perante os maiores da história da SAD, muito graças ao rendimento de Sérgio Conceição e dos jogadores na Liga dos Campeões 2018-19. O FC Porto estimava proveitos de 156 milhões de euros, mas os resultados atingiram os 176 milhões. Só as receitas na UEFA significaram um encaixe de 80 milhões de euros, mas o R&C apresenta uma alínea que não estava prevista no Orçamento: «Outras Prestações de Serviços», que acrescentaram 8,5 milhões de euros às contas. 

    Conforme esperado depois da boa campanha da Champions e das excelentes vendas de Felipe e Éder Militão, o FC Porto terminou a época financeira 2018-19 com lucro, que ascendeu a 9,47 milhões de euros (há um ano, a SAD estimava 1,5 milhões de lucro).

    O passivo e o ativo sofreram ambos reduções.  O ativo total líquido caiu em 52,75 milhões de euros, um pouco menos do que o passivo (-56 milhões), «que se situa agora nos 408,1 milhões, essencialmente devido à diminuição do valor global dos empréstimos», especifica a SAD. Este saldo significa capitais próprios negativos de 34,8 milhões de euros, o que mantém a SAD numa situação de falência técnica. A análise ao R&C será aprofundada quando o resultado completo for disponibilizado na CMVM.

    Ode triunfal 25/08/2019 23:15 O Tribunal do Dragão

    Do inferno ao céu. Onze dias separam a derrota frente ao Krasnodar e o consequente afastamento da Liga dos Campeões da vitória do FC Porto, por 2x0, em pleno Estádio da Luz. Meia dúzia de sessões de treino. O mesmo plantel, o mesmo treinador, apenas um pouco mais de tempo de preparação. 

    O mesmo grupo que ficou negativamente marcado na história do FC Porto por ter «quebrado» o recorde de presenças na fase de grupos da Liga dos Campeões presenteou os adeptos com aquela que foi, provavelmente, a mais brilhante vitória da história dos dragões no Estádio da Luz em jogos do Campeonato. Um sinal de que treinador e jogadores sentiram a responsabilidade, sentiram a necessidade de resposta, sentiram o peso do clube. Nada do que aconteceu na Luz vai mudar o que aconteceu frente ao Krasnodar, mas abre perspetivas renovadas para uma época na qual há quatro títulos para atacar.


    Sim, esta foi muito provavelmente a melhor exibição da história do FC Porto numa visita ao Benfica em jogos da Liga. O resultado, por si só, já o defende: apenas por uma vez o FC Porto tinha conseguido, em jogos do Campeonato, ganhar por mais de um golo na Luz - na longínqua temporada de 1950/51. Mas como todos sabemos, os resultados não descrevem tudo. No caso do FC Porto, foram dois golos, mas podiam ter sido mais. No caso do Benfica, sim, o resultado foi demonstrativo: zero.

    Foi isso que o Benfica foi durante 90 minutos frente ao FC Porto: zero. Porque a forma como Sérgio Conceição preparou o jogo e a execução tática dos jogadores em campo não permitiram mais do que isso. O FC Porto foi constantemente superior ao longo de 90 minutos. O Benfica, uma equipa de golo fácil no contexto de Campeonato português, muito forte nas diagonais, nos corredores e na profundidade foi reduzida a zero ocasiões de golo na partida. Marchesín só teve que esboçar uma defesa. Pizzi não teve para onde passar, Rafa não teve por onde correr, os corredores do Benfica foram barrados e a dupla de avançados foi reduzida a um papel fantasmagórico nas proximidades da grande área.

    A estratégia de Sérgio Conceição foi perfeita. Taticamente, foi provavelmente o melhor jogo da sua carreira de treinador. Secou por completo o adversário enquanto preparou o FC Porto para ter as suas oportunidades - os momentos de procura de profundidade não existiram como modelo de «construção» da equipa, mas sim como arma de ataque ao último terço quando o espaço se abriu. O FC Porto teve um sentido posicional perfeito, roubou as linhas de passe e o espaço interior ao Benfica e teve uma pressão perfeita sobre o portador da bola. O Benfica não sabia o que fazer, não teve resposta e o FC Porto dominou por completo. Nunca é de mais recordar que o Benfica mantém uma grande base de jogadores da última época, enquanto o FC Porto apresentou-se na Luz com mais de meia equipa nova. No entanto, entendimento e sintonia só mesmo do lado azul e branco. 

    Marchesín pouco teve para fazer, jogou mais com os pés do que com as mãos, mas transmitiu sempre serenidade à defesa e ganha cada vez mais peso como voz de comando. Corona, face a uma concorrência que inclui o inapto Saravia, o insuficiente Manafá e o inexperiente Tomás Esteves, provavelmente fixou-se como primeira, segunda e terceira opção para lateral-direito, no teste mais difícil que poderia ter na I Liga. Pepe e Marcano meteram Seferovic e De Tomás no bolso e formaram uma muralha à frente de Marchesín. Telles, pelo equilíbrio tático da equipa, teve liberdade para atacar, desequilibrou e cumpriu.

    Danilo Pereira e Uribe foram uma das chaves da vitória e mostram ser insubstituíveis na equipa. O colombiano quase dispensou o período de adaptação e encaixou na perfeição no 11, com um papel de equilíbrio fundamental pela meia direita. Recupera, preenche, distribui. Já o capitão de equipa voltou ao seu nível e teve um sentido posicional perfeito no miolo, mas nunca se inibindo de dar amplitude ao jogo da equipa.

    Romário Baró tem sido uma das apostas surpresa de Conceição e, se na Rússia pareceu «perdido» vários momentos na equipa, na Luz foi importante para o equilíbrio da equipa na direita e surgiu bem mais maduro em campo. Meia dúzia de treinos depois, mostrou um crescimento que talvez só se alcançaria com meses de trabalho. Não estamos a falar de um jovem talento que aparece com liberdade num clássico, mas sim num miúdo que carregava uma importante missão tática e que a conseguiu cumprir. 

    Luis Diaz, por sua vez, está a revelar-se uma surpresa. Não por não trazer potencial da Colômbia, mas pela prontidão e rapidez com que está a ganhar espaço na equipa. É muito raro um jogador sair diretamente da Liga colombiana para um grande clube europeu (por norma dão primeiro o salto para México ou Argentina), mas Diaz está a ter um impacto tão precoce quanto brutal. Ganha metros com bola, é rápido e incisivo no 1x1 e sabe escolher que terrenos pisar. 

    Zé Luís, o terceiro jogador a fazer 5 golos nos primeiros 5 jogos pelo FC Porto nos últimos 40 anos, já conquistou os adeptos. A qualidade e as caraterísticas do jogador faziam todo o sentido num clube como o FC Porto. Possante, capacidade técnica, jogo aéreo, capacidade de finalização e de trabalho de costas para a baliza, ataque à profundidade ou no espaço curto... O cabo-verdiano tinha, tem, tudo. No contexto e companhia certas é jogador de 30 golos por época. Não esquecer que era um jogador muito bem referenciado pelo departamento de scouting do FC Porto quando ainda estava no Gil Vicente. Esteve, como disse Conceição, a «marinar» na Rússia, mas no FC Porto encontra finalmente o espaço certo para revelar toda a sua qualidade. Não vai marcar em todos os jogos, mas com ele em campo o FC Porto estará sempre mais perto do golo.

    Marega foi... Marega. Capaz de nos levar ao desespero com mais um falhanço em clássicos e, minutos depois, matar o jogo. Lutou e correu a toda a largura do campo, criou duas ocasiões de golo e entendeu o seu papel na reta final da partida: era o momento de ataque à profundidade, de cair nas costas da defesa do Benfica, e aí destaca-se a leitura perfeita de Otávio e a arrancada para o 2x0. 

    Foram 90 minutos em que a equipa superou qualquer momento menos bom das individualidades. O discurso de Zé Luís no final da partida disse tudo sobre o entrosamento e a união que os jogadores levaram para este jogo. Cada jogador entendeu o colega e correu por ele. Sérgio Conceição aprendeu com os erros do último clássico e não teve medo de ser ambicioso. Não teve medo de ser melhor e de querer mais do que o Benfica. Vitória em toda a linha.

    Entre todos os elogios a 90 minutos que merecem cada um deles, sobra isto: foram apenas 3 pontos. Ontem não estava tudo perdido e hoje não está nada ganho. O FC Porto continua fora do primeiro lugar e, ao mínimo deslize, pode passar novamente para trás do Benfica. O próximo adversário é um exemplo perfeito de que não podemos relaxar, nem com uma vantagem de 2x0 no Dragão. Equipa e adeptos recuperaram a confiança, mas como sabemos, esta tem sempre um prazo de validade que se esgota ou renova jogo após jogo. O Campeonato vai ser longo, mas do Estádio da Luz trazemos algo que bem nos pode acompanhar toda a época: quando o FC Porto eleva os seus níveis de competência ao limite, não há Benfica que consiga competir com isso.

    Carta aberta a Sérgio Conceição 16/08/2019 04:59 O Tribunal do Dragão

    Caro Sérgio,

    Permite-me que recue até junho de 2017, quando te dei as boas vindas ao FC Porto e te desejei a melhor sorte como treinador principal. 

    «Nenhum adepto sabe ainda se Sérgio Conceição vai jogar em 4x4x2 ou 4x2x3x1. Se vai jogar em posse, em transição rápida, se vai ser híbrido. Não é, até à data, um treinador que tenha diferenciado os clubes por onde passou com um estilo de jogo particularmente brilhante ou positivo. O Paços de Paulo Fonseca jogou melhor futebol que o Braga ou o Guimarães (apenas 8 vitórias em 2015-16) de Conceição, por exemplo. O que não é garantia de nada, mas que sugere uma coisa: o FC Porto não está, com Sérgio Conceição, a contratar um modelo ou uma ideia de jogo. 

    Está, isso sim, a contratar sede de vencer e um homem que vai ao encontro das dificuldades, trocando o conforto pelo risco. Sérgio Conceição não é, provavelmente, a melhor escolha para treinador. Mas como homem, já começou a vencer pelo FC Porto: está disposto a queimar-se a ele próprio para ajudar a tentar a reerguer o clube que aprendeu a respeitar e a amar.»

    Adivinha o que aconteceu, Sérgio. O esperado. Enquanto ganhamos, somos brilhantes, e ai de quem questione a exibição e todos os aspetos técnico-táticos quando o resultado é favorável. Agora, quando perdemos, tudo se resume ao treinador. Injusto, claro, mas já mais do que habitual.

    És o 14.º treinador do FC Porto (contando com interinos e a passagem fugaz de Delneri) do pós-Gelsenkirchen. Sabes o que todos eles, exceto André Villas-Boas (que tão rápido teve enorme sucesso como saiu), tiveram em comum? Os adeptos, na sua aparente maioria, torceram a determinada altura pela saída do treinador. Ninguém escapou. Nem Co Adriaanse, nem Jesualdo, nem Vítor Pereira, que mais tarde se sagraram campeões. No FC Porto, qualquer treinador está a três ou quatro maus resultados de, para a generalidade, não servir e tomar mil uma opções que ninguém consegue compreender. 

    Serão estas críticas justas, Sérgio? Vamos por partes.

    Época 2017-18. O que fizeste? Adaptaste-te ao que tinhas. Sem reforços, mas como o tempo o revelou, esta temporada de contenção viria a revelar-se a mais cara da história da SAD. O futebol nem sempre foi o mais virtuoso, mas chegou para cumprir e superar as expetativas, consagradas com o título de campeão nacional e com a «nega» do penta ao Benfica. Tudo isto aliado a uma sempre importante qualificação para os oitavos-de-final da Champions. Título + passagem aos 1/8 da Champions? Perfeito, mesmo nunca gostando da Maregodependência e reconhecendo que bastava Herrera não ter rematado aos 89 minutos na Luz para mudar a forma como a massa olhava para a época.

    Chega 2018-19 e, uma vez mais, levas o FC Porto a todas as decisões. É algo que só pode ser valorizado: com Sérgio Conceição, o FC Porto luta (quase) sempre, até ao fim, por todas as competições. A campanha na Champions teve resultados brilhantes, até cair nos quartos-de-final perante um Liverpool de calibre de campeão europeu. Nas Taças, tal como nas meias-finais de há um ano, a cruel ineficácia nas grandes penalidades, pela qual nunca um treinador pode ser sumariamente responsabilizado. 

    E no Campeonato? Podias, devias, ser neste momento o treinador bicampeão nacional. É de uma insuficiência e injustiça tremenda lembrar esta época como sendo aquela em que o FC Porto desperdiçou uma vantagem de 7 pontos. É evidente que os pontos deixados no Minho e em Vila do Conde, já para não falar na receção ao Benfica, coincidiram com muita incompetência do FC Porto dentro de campo. Mas nem tudo se pode resumir a isso. Não podemos nunca ignorar que, da mesma forma que o FC Porto perdeu pontos quando não foi suficientemente bom, o Benfica também deveria tê-los perdido. O que aconteceu na Feira, em Braga ou em Vila do Conde manchou a história e a justiça do desfecho do Campeonato. 

    85 pontos e 74 golos na I Liga 2018-19. Como mero termo de comparação, embora cada época tenha a sua história, o FC Porto campeão europeu de Mourinho fez 82 pontos e 63 golos. E aqui não há Decos ou Derleis. Para a história fica que perdemos. Mas não nos podemos esquecer de como a história foi sendo escrita. Sobretudo nós, as vítimas do som do apito, da doutrina divina e do som do Enter ao enviar e-mails. 

    Mas de uma coisa não duvides, Sérgio. Poderias, neste momento, ser o treinador bicampeão nacional e eu dir-te-ia a mesma coisa: o teu modelo de jogo está completamente esgotado. O futebol como o imaginas, neste momento, tornou-se um modelo previsível, inconsequente e facilmente anulável por qualquer treinador do nosso Campeonato. Reafirmo-o, com sinceridade e preocupação.

    Na primeira época, tivemos que te dar o mérito. Encontraste uma fórmula que funcionou. Longe dos tempos de um 4x3x3 com extremos virtuosos, um goleador no eixo, um meio-campo que combinava combatividade com classe. Mudaste tudo, apostaste numa dimensão mais física, pegaste na lista de dispensas e transformaste o FC Porto. Nesse momento, tiveste todo o mérito do Mundo, pois moldaste o FC Porto à tua imagem perante as circunstâncias.

    Mas os tempos passaram e a ideia que foi ficando foi outra. Se calhar, esse não apenas o modelo que achavas que melhor servia o FC Porto naquela altura. Esse é o único modelo que concebes para o FC Porto. E, neste caso, não poderemos nunca estar de acordo, Sérgio.

    Reforço o mérito que tiveste no teu trabalho nas duas primeiras épocas. Valorizarei um treinador que vai sempre às decisões e que luta sempre por títulos. Os adeptos mais exigentes dirão «não, no FC Porto só valorizamos quem ganha, não é quem vai às finais para perder!» E isso é ignorar as difíceis circunstâncias que encontraste no FC Porto desde a primeira hora. Poderíamos, neste momento, ter um Benfica hexa em Portugal. Não o temos pelo teu trabalho, Sérgio, pela forma como reinventaste a equipa. 

    Defendi, por isso, que 2019-20 tinha que ser a tua época. Era a época em que finalmente irias construir o plantel, ter mais palavra na escolha de jogadores e de reforços, poderias trabalhar outra ideia de jogo. Mas não é isso que vemos. E é isso que temos que mudar.

    Chega de tocar o bombo, Sérgio. O FC Porto, neste momento, resume-se a isto: eterna procura pela profundidade e jogo direto; bola que vai do defesa às costas dos laterais adversários; extrema dependência das bolas paradas; resistência a circular a bola, procurar espaço entre-linhas, tabelar em zonas interiores. A transição defesa-ataque é uma pobreza neste FC Porto. Digo-te agora, que és o treinador que caiu com o FC Porto para a Liga Europa, e dir-te-ia na época passada se fosses, como merecerias, o treinador bicampeão que esteve nos 8 melhores da Champions. 


    Qualquer equipa adversária percebe que se fechar os corredores e não deixar que os avançados caiam nas suas costas anula o FC Porto. Prova disso é que um Gil Vicente que há uns meses estava no Campeonato de Portugal e que tem um camião de jogadores novos, cuja grande maioria nunca tinha jogado a este nível, conseguiu fazê-lo. Poderia ter sido diferente se tivéssemos aproveitado as oportunidades quando estava 0x0. Mas a crítica continuaria a ser a mesma: este FC Porto, com esta identidade e estilo de jogo, é curto. É previsível. É insuficiente. É, lamento, uma miséria a jogar à bola.

    Fala-se demasiado em trabalho. Chega. Temos que falar em qualidade. Uma equipa dominadora, capaz nos quatro momentos do jogo. Organizada, equilibrada, com boa ligação entre os setores, onde um jogador saiba o que o colega vai fazer e como se deve posicionar. Saber que só podemos marcar se tivermos a bola e, se a tivermos, não vamos sofrer. Perceber que o espaço nas costas da defesa deve ser explorado perante a circunstância e oportunidade do jogo e não como jogada-padrão. 

    E depois de tudo isto, reconheço. Será que tu próprio tiveste tempo para trabalhar novas ideias? Ou será que, perante as circunstâncias, tentaste trazer a base do ano passado para tentar ganhar no curto prazo?

    Vejamos. O FC Porto perde 5 titulares no verão. Casillas, Felipe, Militão, Herrera e Brahimi. Perde a experiência de Maxi Pereira, e perde o 12º jogador mais utilizado e aquele que, insisto, foi o único nos 2 primeiros anos que manifestamente aproveitaste mal, Óliver. O teu melhor FC Porto teria que ter sempre Óliver no 11. O melhor futebol foi sempre aquele que teve Óliver em campo. Nunca compreenderei a forma como este jogador foi desaproveitado por ti. 

    Adiante, há algo a ter em conta. A situação de Casillas foi um infortúnio, mas desde o ano passado que a SAD sabia que Herrera e Brahimi iam sair, Militão foi confirmado no Real em março e Felipe no Atlético em maio. As vendas que o FC Porto necessitava de fazer já tinham sido feitas em maio. Não temos aqui a desculpa da demora na chegada de reforços pela necessidade de antes sair alguém. Não, porque já tinham saído. 

    Nenhum treinador tem o plantel composto no arranque da pré-época, mas a importância e a urgência da pré-eliminatória da Champions obrigava a SAD a uma rapidez que não pudemos testemunhar no mercado. Chegaram 7 caras novas, jogadores caríssimos e estamos perante o maior investimento da história do FC Porto no mercado de verão. São mais de 60 milhões de euros. E já vimos que os dedos estão apontados a ti. «Escolhemos o plantel dentro daquilo que ele queria», diz o presidente.

    Mangala? Bruma? Pedro? Roger Guedes? Pavon? Rongier? Reine-Adélaide? Tudo nomes que fizeram correr tinta antes da chegada do arranque da pré-época. Temos que compreender que nenhum clube contrata todos os jogadores que quer. É normal passar do plano A para o plano B. Mas não podemos resumir a aposta no mercado a preferências de Sérgio Conceição. Não, se é o treinador da estrutura, a estrutura tem que partilhar responsabilidades com o treinador. Este não pode ser o plantel «dentro daquilo que ele queria». Tem que ser o plantel que o FC Porto quer. 

    Uma equipa que perde tantos titulares e vai buscar jogadores a outro continente necessita de tempo. Tempo esse que, infelizmente, o FC Porto não teve e que custou caro. A derrota contra o Krasnodar mancha a época e uma era - o FC Porto deixa de ser recordista de presenças na fase de grupos. Mas a má preparação não esteve apenas na equipa. Héctor Herrera é um dos 10 jogadores com mais jogos da história do FC Porto na Champions. Goste-se ou não, a experiência na Champions tem um peso enorme. Onde estava o seu substituto na preparação para esta eliminatória? Amadorismo puro na gestão desde caso. Pinto da Costa admitiu a impossibilidade de renovar com Herrera em outubro. O seu substituto, Uribe, já depois de falhadas outras alternativas, não chega a tempo de estar devidamente pronto para a Champions. O próprio Marchesín mal tem tempo de conhecer os nomes dos companheiros antes de ser lançado às feras. Inqualificável.

    E agora, Sérgio? A Champions já se foi e começamos o Campeonato a olhar para cima, já sob um clima de contestação e dúvida fortes. Qualquer treinador precisa de tempo para remodelar a equipa. Jamais a responsabilidade poderá ser resumida ao treinador. Mas tu próprio também terás que mudar, Sérgio.

    Peço-te que faças o que fizeste na primeira época cá: adapta-te. Neste caso, é necessária uma mudança clara no futebol da equipa. Essa mesma mudança já deveria ter sido trabalhada desde o início de julho, mas não aparenta ser o caso. Ainda vamos a tempo. Estamos em agosto. Não há épocas ganhas nem perdidas em agosto. Mas o FC Porto, que à data de hoje tem uma equipa menos forte do que a da época passada, tem que evoluir. Só pode evoluir. Vamos defrontar um Benfica forte e dominante, dentro e, sobretudo, fora dos relvados. E não vai ser a tocar bombo que iremos longe. 


    Tens que reconquistar o grupo e os adeptos. Os próprios jogadores «cansam-se» da insistência nos mesmos métodos. Tem que haver novos desafios, novos estímulos. Os jogadores têm que sentir que, treinando contigo, vão evoluir enquanto futebolistas, e não apenas serem formatados para este tipo de jogo. Têm que sentir que vão conquistar coisas. Têm que sentir que são temidos pelos adversários quando entram em campo. Têm que saber o que vão fazer. 

    Sérgio, neste momento, tens no Olival o grupo responsável por ter «destruído» o recorde de presenças do FC Porto na fase de grupos da Champions. Pensem em todos os treinadores, jogadores e equipas que representaram o FC Porto desde a criação da Liga dos Campeões. Fizeram deste clube recordista e um nome ao qual todos se habituaram a ver na Champions. Em meros e míseros 35 minutos contra o Krasnodar, uma equipa que nunca sequer meteu os pés na Champions, destruíram tudo isso. 

    Tens que dar a resposta. Tens que mudar a equipa, o estilo de jogo, tens que cativar os jogadores. Já frente ao Vitória de Setúbal, tem que haver uma resposta clara e contundente. É difícil, como sabias que era desde o primeiro dia. E esta época não será mais fácil do que as anteriores. Mas pegaste no FC Porto num dos momentos mais delicados da sua história, quebraste a hegemonia do Benfica e mantiveste o clube na disputa de todas as competições. Mas é tempo de mudar. Disseste que vinhas para ensinar, não para aprender. Mas tu próprio tens que aprender para evoluir. É impossível não teres aprendido alguma coisa nos últimos dois anos e, sobretudo, nos últimos dois jogos. É impossível não veres que a mudança é imperativa.

    É verdade, nós não vemos os treinos. Mas aquilo que temos visto nos jogos também não pode ser o que tu vês nos treinos, pois é manifestamente fraco. O que se testemunhou em Barcelos e na Champions não pode ser o resultado de nenhum plano ou de trabalho, tamanho que é o caos e a desorganização.

    Erros todos cometem. E todos têm redenção, exceto um: continuar a insistir no mesmo erro, à espera de resultados diferentes. Muda a equipa. Ouve os jogadores. Aceita a crítica. Podes cair enquanto treinador do FC Porto com as ideias de sempre ou reerguer novamente o clube aceitando a necessidade de mudar. Ninguém pode duvidar ou pôr em causa a tua dedicação e vontade de vencer no FC Porto. Arriscaste muito para teres sucesso aqui. Para ajudares o FC Porto a ter sucesso. E por ter noção do quão te dedicaste a esta causa é que não desisto de ti.

    Reúne as tropas e prepara-te, pois há muito a ganhar esta época. Vocês são, à data de hoje, o grupo que tirou o FC Porto da lista de recordistas da Champions. Isso já não vão mudar. Mas podem mudar a forma como olharão para vocês em maio. Campeonato, Taça de Portugal, Taça da Liga e Liga Europa. Não vamos ganhar sempre, mas temos que lutar e jogar sempre para ganhar. 

    BIBÓ PORTO, CARAGO!!: UM ADEUS E UM ATÉ JÁ! 25/05/2019 20:00 Bibó Porto Carago


    Não vale a pena rodear a questão. Chega HOJE formalmente ao FIM o blog BiBó PoRtO, carago!!

    HOJE, precisamente hoje, 13 ANOS após a sua data de fundação, depois de mais de 10.750 posts que escrevemos, mais de 57.075 comentários, mais de 6.600.000 visitas de IP único, e um total de mais de 35.000.000 visitas globais.

    Uma Enormidade. Um Orgulho. Um Sentimento de Missão Cumprida.

    Um blog que, para todos os seus co-autores, refletiu a liberdade, a independência, o questionamento e a convicção de cada um, que, julgamos, enriqueceu o percurso individual de cada um, e o resultado global do blog, num contributo eclético de cada um para o todo. O FC PORTO.

    Porque o tempo está em permanente mudança...
    deixemos o blog fluir silenciosamente para a neblina que o presente se transformará em passado...
    a memória virtual vai permanecer acessível, como repositório digital de informação que não desaparecerá nesta era da internet, quase como uma biblioteca viva e rica da Vida e História do FC PORTO.

    Em nome de todos os co-autores deste blog – que foram mais de três dezenas ao longo de todos estes 13 Anos - um MUITO OBRIGADO por nos terem acompanhado nesta longa caminhada, nesta jornada, sempre e sempre, na defesa do bom nome e honra do nosso clube. O FC PORTO.

    Porque o PORTO não é Moda, o PORTO é Tradição. Porque o PORTO não é Amor, o PORTO é Paixão. Porque o PORTO não é um Momento, o PORTO é uma História. Porque o PORTO não tem Adeptos, o PORTO tem um Império.
    Com o PORTO SEMPRE! Pelo PORTO TUDO!

    Antes de nos despedirmos definitivamente, fica a nossa última mensagem para todos vós:

    “Que TODA a Nação Portista se Una em volta do Clube. Vamo-nos esquecer das lutas de egos, das jogadas de poder, dos mal-entendidos, das estratégias suicidas, das atitudes menos racionais, dos erros rudimentares... Em vez disso, vamo-nos encher de Esperança em volta de um Bem Comum, o Futebol Clube do Porto. Não se pode Ganhar sempre, mas também não seremos eternos perdedores. Somos de uma Cidade que faz jus ao seu nome... INVICTA. A cada queda, levantar-nos-emos mais Fortes, a cada desilusão pintaremos a Alma de Azul e Branco. Não são os euros que preenchem o Orgulho de sermos Portistas, são as Conquistas. A Felicidade nunca poderá ser constante, mas pode ser procurada a cada momento. A redenção de Valores, da Alma, do Espírito, tem de estar presente na entrega da Missão que nos é incumbida. Aos que representam o Futebol Clube do Porto ao mais alto nível, aos que pretendem representar, aos sócios, adeptos, simpatizantes... O momento não é fácil, mas a vida também não é. O Futebol Clube do Porto não morrerá enquanto houver pelo menos um Portista com sentido de missão. Todos a Uma Só Voz, em uníssono... Uma vez Portista, Portista além da morte.”

    Um ADEUS e um ATÉ JÁ!

    CRUELDADE A RODOS. 25/05/2019 15:00 Bibó Porto Carago


    sporting-FC PORTO, 2-2 (5-4 após GP)

    Na minha última crónica, neste espaço, não vou narrar as peripécias do jogo, como faço habitualmente. Para isso, há jornais, sites e outros espaços para ler sobre esses momentos. Ou então, vão à box e revejam o jogo. Sendo a minha derradeira vez que escrevo aqui, interessa-me debruçar sobre a época com epílogo no Jamor.

    A presente época, que, este Sábado, terminou, trouxe um grande amargo de boca ao FC Porto. Com uma carreira bastante interessante em todas as competições, apenas faltaram os títulos. Salvou-se a Supertaça conquistada em Agosto, altura em que na equipa via-se muita esperança e previa-se uma época recheada de sucessos. O certo é que tal não aconteceu. Ficou-se tudo pelo “quase”, o que foi de uma crueldade terrível para uma equipa e para um técnico que não mereciam nada disto.

    A época, como já disse, iniciou com a conquista de um troféu. O campeonato, apesar de não ter começado da melhor forma nas primeiras sete jornadas, viria a revelar um FC Porto dominador, destacado na tabela classificativa ao fim de dezassete jornadas com cinco pontos de vantagem para o seu perseguidor. Tal vantagem chegou a ser de sete pontos, o que previa algum conforto na prova. A primeira volta terminou com a equipa de Sérgio Conceição a perder 8 pontos contra 13 do seu rival directo.


    Ao mesmo tempo, o Dragão dava uma imagem fantástica na fase de grupos da Champions League com a conquista de 16 em 18 pontos possíveis. Os azuis-e-brancos revelaram ser a melhor equipa, nesta fase, em termos europeus. Nas taças internas (Liga e FPF), Sérgio Conceição atingiu as duas finais com alguma facilidade.

    Mas a partir de Dezembro/Janeiro, o panorama futebolístico voltou a sofrer profundas mudanças fora de campo. Vivia-se um período de muita tensão para os lados de Carnide com processos judiciais a decorrer nos tribunais comuns. Com a decisão tomada pela juíza de que cerca de três dezenas de supostos crimes cometidos por aquela agremiação não iriam ser julgados em tribunal, absolvendo SAD e clube, o regresso em força do estado lampiânico verificou-se em fins de Janeiro.

    O sentimento de impunidade que se vive para aqueles lados, permitiram ao seu “chefão” proferir declarações em tons de ameaça, criando efeitos imediatos. O benfiquistão começou a revelar-se em toda a linha. A segunda volta da Liga NOS decorre com um manancial de erros crassos e inadmissíveis, com o foco a incidir nas decisões inacreditáveis tomadas pela inovadora tecnologia do VAR.

    O FC Porto, entretanto, perdia, de forma bizarra e cruel, a final da Taça da Liga nas grandes penalidades frente ao Sporting e, no campeonato, cedeu mais quatro pontos fora do seu reduto e mais três, em casa, frente aos DDT (donos disto tudo). No final, fez a segunda volta da prova com nove pontos desperdiçados.

    Entretanto, essa agremiação de Carnide passa para a frente da classificação e, pasme-se, realizam uma volta completa com apenas dois pontos perdidos, em contraste com os treze pontos cedidos na primeira volta. As decisões das equipas de arbitragem de campo e da cidade do futebol passam a ter grande preponderância nas decisões ocorridas em campo, os adversários apresentam-se de forma bastante distinta com o FC Porto e com a equipa de Carnide. Com os outros até se dão ao luxo e ao descaramento de poupar jogadores e/ou dar o jogo como perdido.


    Por outro lado, os golos em catadupa e a facilidade com que essa agremiação vence os jogos é de tal forma incrível que chegamos ao ponto de concluir que não estamos, nem de perto, nem de longe, a lutar com as mesmas armas. Entretanto, a performance dessa falsa potência do futebol, claudica na Champions League e na Liga Europa faz duas eliminatórias sofridas e cai aos pés da “potência” alemã Eintracht de Frankfurt. Que discrepância!

    Depois vem a parte final da prova, últimas seis jornadas com as equipas empatadas no topo da tabela. A agremiação começa a passar dificuldades nas primeiras partes dos jogos fora de casa. Refiro-me aos desafios ocorridos em Santa Maria da Feira, em Braga e em Vila do Conde. Com os acontecimentos a correrem em nada a seu favor, os DDT tratam de as inverter, de forma escandalosa e inacreditável. São tomadas decisões de arbitragem escandalosas e vemos jogadores cometerem erros de palmatória que, nem as crianças dos sub-10 cometem nos seus jogos, nos clubes onde praticam a modalidade.

    Ao mesmo tempo, o FC Porto disputa os jogos todos sob grande pressão, com decisões de arbitragem sempre contra, com a “faca nos dentes” e perante adversários com posturas de equipa de Champions League. Por falar na prova europeia, a equipa portista termina a sua participação na Liga dos Campeões, nos quartos-de-final, caindo aos pés do super-candidato Liverpool.

    Até que chega a deslocação dos Dragões a Vila do Conde. O FC Porto chega facilmente ao 2-0 e, de certa forma, descansa à sombra desse resultado. Depois vieram as decisões de arbitragem polémicas e erros próprios. O FC Porto colocou-se a jeito e o campeonato, praticamente, decide-se aí com os azuis-e-brancos a deixarem dois pontos.

    Com três jornadas por realizar, os DDT tinham uma almofada de dois pontos para gerir e fizeram essa gestão com uma preciosa e escandalosa ajuda quando, quinze dias depois, visitaram Vila do Conde e saíram de lá com uma vitória tangencial, com três golos oferecidos pela arbitragem e pelo adversário e uma grande penalidade perdoada pelo “artista de circo”.


    Assim se fez o vencedor da Liga NOS 2018/19, numa liga mentirosa, a chamada liga da vergonha que ficará registada, nos anais do futebol português, como a liga mais escandalosa da história do futebol em Portugal.

    Para terminar a época, o FC Porto disputou o derradeiro jogo, novamente, frente ao Sporting, na prova rainha do futebol português. Com um ambiente fantástico, uma atmosfera bonita e um dia de sol a convidar à prática da modalidade, apesar do sempre relvado seco e duro do Jamor, o jogo assistido constituiu, para os Dragões, o expoente máximo da crueldade.

    Num jogo que teve os primeiros 25 minutos de algum equilíbrio, com duas oportunidades para cada lado, traduziu-se, posteriormente, num massacre de futebol jogado em azul sobre o verde, em que a sorte ou a falta dela determinou mais uma vez o vencedor da prova.

    À semelhança do que tinha acontecido na taça da Liga, o FC Porto foi tão superior ao seu adversário que nos leva a interrogar como é que o futebol pode ser tão cruel. Com tantas oportunidades perdidas, com duas bolas nos postes, com um canto verde contra catorze azuis-e-brancos e com uma subserviência leonina perante um Dragão dominador em toda a linha, interrogo-me porque é que a equipa de Sérgio Conceição não venceu este jogo e respectiva competição.

    Sim, houve erros cometidos da parte dos jogadores portistas quer a defender, quer na fase de finalização. Sim, é verdade, mas não ao ponto de perder o jogo e o troféu que, pelo desenrolar dos acontecimentos, indicava que estava a caminho do museu azul-e-branco.


    Aos 120 minutos, no fim do prolongamento, fazia-se alguma justiça no marcador com o empate do FC Porto na partida, levando a decisão para as dramáticas grandes penalidades. E, neste capítulo, lá tivemos que assistir a mais uma cruel e revoltante derrota que nos impediu de vencer um troféu que, tal como na Taça da Liga, seria nosso, indiscutivelmente e com todo o mérito.

    Assim, termina a época do Dragão. Uma época muito boa em termos de performance, mas muito dramática e terrível em títulos. Porque “morrer” na praia, depois do longo caminho percorrido nas diferentes provas é de levar tudo e todos às lágrimas, tal como pudemos assistir esta tarde no vale do Jamor onde a revolta e a incredulidade dominaram os sentimentos de todos os portistas.

    Espero que o FC Porto aproveite toda esta panóplia de acontecimentos para aprender e para se precaver a partir da próxima época. Vai ser preciso jogar tanto ou mais do que jogou na presente temporada e será necessário que a má sorte se afaste do Dragão e rume a outras paragens. Por outro lado, urge uma maior participação e acção efectivas dos dirigentes do FC Porto para combater os poderes instalados no futebol português que desvirtuam, permanentemente, toda a verdade e toda a essência da modalidade.

    Obrigado e até sempre!

    VIVA O FC PORTO!




    DECLARAÇÕES

    Sérgio Conceição: "Isto é cruel e injusto"

    Mais finais no futuro
    “Seria super merecida a nossa vitória. Tivemos mais oportunidades e fomos superiores. Isto é cruel para um grupo de trabalho que fez tudo para ganhar esta Taça, para acabar a época a vencer um troféu, que seria merecido. Sentimos muito o que é o nosso clube e a nossa profissão. Trabalhámos de forma incrível para podermos ganhar hoje e mais uma vez nos penáltis voltámos a perder. A vida é feita de derrotas assim mas esta derrota irá tornar-nos mais forte no futuro. Vão haver mais finais, mais momentos decisivos que nós vamos ganhar. Sou apaixonado pela vida, pela minha profissão, por aquilo que faço. Compreendo a frustração dos adeptos, porque nós temos o mesmo sentimento.”

    Oportunidades para ganhar
    “Tínhamos preparado o jogo para ganhar nos 90 minutos e criámos oportunidades para isso. O Sporting é competitivo, houver algum equilíbrio inicial mas a partir de determinado período fomos superiores em tudo. É cruel, os jogadores fizeram um trabalho fantástico, toda a gente estava comprometida neste último dia da época mas o trabalho não chegou. É cruel e injusto, mas a vida é isto, não há nada a fazer, temos de ser mais competentes.”

    A emoção no final do jogo
    “É o momento, é ver a minha família de sangue triste com este momento, é ver a nossa família portista, que também é extremamente difícil para eles. Há uma frustração grande. Fico muito tocado com isto porque perder desta forma custa ainda mais. É um momento difícil para nós. Sentimos muito esta derrota. Tivemos sempre uma alma e uma crença enorme durante a partida, sempre comprometidos e envolvidos no jogo. A nossa família portista merecia esta vitória, pelo apoio, pela determinação e pela paixão que sentem a cada momento deste clube, tal como sentimos, tal como eu sinto. Não tenho vergonha nenhuma de deixar cair uma lágrima. Sou um homem. Sinto, sofro e sou apaixonado por aquilo que faço, pela vida. O meu grupo é o reflexo disso, pelo jogo incrível que fizeram".



    RESUMO DO JOGO

    CARTA ABERTA E DE ABRE-OLHOS A TODOS OS PORTISTAS. 25/05/2019 10:00 Bibó Porto Carago


    Caro Portista,

    Escrevo-lhe esta carta antes de jogarmos a 30º final da Taça de Portugal da nossa história.

    Vou dizer muitas verdades nesta mensagem. Mas começo com uma grande mentira: o Benfica é o campeão nacional 2018/2019. A partir daqui começam os factos. Vamos a eles.

    Contas feitas, o FC Porto faz uma época de bom nível, não se podendo nunca dizer que se trata de uma grande temporada, pois no FC Porto o título nacional é sempre o objectivo número 1. Mas chegar à final da Taça da Liga, terminar a 2 pontos do 1º classificado no Campeonato, alcançar a final da Taça de Portugal e chegar aos quartos-de-final da Champions caindo às mãos do provável vencedor nunca poderá ser considerado uma má época, muito menos uma época para esquecer.

    Então porquê este sentimento de frustração, decepção e raiva que afecta muitos portistas? E porquê esta alegria desmedida e cheia de bazófia dos benfiquistas? Por uma razão muito simples: porque nem uns compreendem como perderam o título; nem outros compreendem como o ganharam.

    Posso até admitir ser verdade que os portistas confiaram em demasia nos 7 pontos de vantagem sobre o rival e se deixaram de algo forma adormecer, posto que as revelações do caso dos e-mails e a distância pontual e exibicional face ao Benfica de Rui Vitória não auguravam uma recuperação como aquela que foi protagonizada por Bruno Lage.

    Mas façamos agora um exercício curioso: como é possível que este Benfica, mesmo tendo sido treinado durante quase toda a primeira metade da temporada por um boneco chamado Rui Vitória, consegue ainda ir a tempo de ser campeão? A resposta mais lógica seria dizer que Lage é um treinador de eleição, uma espécie de novo-Mourinho, mas os factos desmentem essa teoria. Bruno Lage entrou e logo no segundo jogo perdeu a meia-final da Taça da Liga com o FC Porto. E é nesse momento que o campeonato vira definitivamente, quando Vieira se irrita e parte loiça toda, mandando Fábio Veríssimo para a jarra e garantindo que, como diria alguém, “quem se mete com o SLB, leva”. Depois dessa noite, nada mais foi igual no campeonato nacional.

    A partir dessa derrota e consequente afastamento da Taça da Liga, o passeio do SLB na liga nacional foi total, não fosse o empate caseiro diante do Belenenses, num dia em que Rubén Dias e Vlachodimos estavam em modo kamikaze. Não fosse esse dia e esses acontecimentos esdrúxulos e não é que o campeonato do Benfica teria sido 100% vitorioso? Estranho, não? Impossível?
    Nem por isso. Lembramo-nos certamente de campeões avassaladores, como Mourinho e AVB ou Jesualdo e VP. Mas Mourinho, mesmo em plena época de Apito Dourado, tem em sua defesa o facto da sua equipa ter ganho a Taça UEFA e a Liga dos Campeões em dois anos consecutivos que a afirmaram como a melhor equipa da Europa, enquanto que AVB mostrou também todo o poderio desse FC Porto na Liga Europa. Ou seja, estas equipas eram demolidoras tanto interna, como externamente. Já Jesualdo e VP apresentavam domínios internos e juntaram a isso participações consistentes nas provas europeias, sem alcançarem o tão almejado título. No entanto, a bota bateu sempre certo com a perdigota, por assim dizer.

    O caso deste SLB é diferente. E mais: não é de agora. Os últimos campeonatos do SLB, ao contrário dos do FC Porto, apresentam sempre esta dicotomia: domínio interno conjugado com campanhas europeias miseráveis e motivo de vergonha, sendo os famosos 0 pontos na fase de grupos o corolário máximo da incompetência benfiquista nas provas europeias, diante de “gigantes europeus” como o Basileia e o CSKA Moscovo. Tudo isto contrasta, desde logo, com as duas grandes campanhas de SC na Champions League, onde caiu sempre derrotado perante o finalista Liverpool.

    Mas então de onde vem esta desproporção verdadeiramente colossal entre campanhas nacionais e campanhas europeias? De onde vem este domínio caseiro na Taça da Liga e no Campeonato e esta incompetência contumaz na Europa? Como é possível que o “glorioso” Benfica seja eliminado de forma tão limpinha por esse tubarão chamado Eintracht Frankfurt?


    Olhemos pois à estatística. Um olhar atento, que não vejo a comunicação social focar, é o campeonato verdadeiramente brilhante e colossal feito pelo SLB, que acaba a maratona com esmagadores 87 pontos em 34 jornadas. Para termos uma noção, a incontestada Juventus alcança apenas mais 3 pontos (90), mas em 37 jornadas (ou seja, com mais 9 pontos em disputa). O PSG chega aos 91, também em 37 jogos. O City chega aos 98, mas em 38 jornadas. O poderoso Barcelona alcança os mesmos pontos que o SLB, mas com mais 4 jornadas em cima. Olhemos o próprio Bayern, líder sem rival na Alemanha, que em 34 jornadas tal como em Portugal, chega apenas aos 78 pontos, menos 10 que o SLB.

    Mas o que mais impressiona acima de tudo é a capacidade goleadora do SLB, que chega à incrível marca de 103 golos, mais 13 por exemplo que o Barcelona de Messi, Coutinho, Suarez e Dembelé. Um número também bem acima dos 70 golos marcados pela Juventus de CR7, Mandzukic e Dybala. Acima inclusivamente da máquina City (95) de Sané, Sterling, Aguero, De Bruyne, Mahrez e Gabriel Jesus. E acima do Bayern (88) de Robben, Muller, Ribery e Lewandoswski.
    Um olhar atento perguntaria imediatamente: mas o que raio se passa em Portugal para uma equipa ser campeã com 87 pontos e 103 golos marcados e o segundo classificado ficar a uns meros 2 pontos, mas com menos 29 golos?
    Façamos pois uma comparação aceitável: fases de grupo da Champions*. Escolhamos três épocas consecutivas (17/18 e 18/19), para não levar a discussões sobre a valia dos grupos de cada um. O FC Porto consegue um total de 37 pontos (11+10+16) e 39 golos marcados (9+15+15); o SLB chega aos 15 pontos (8+0+7) e a uns míseros 16 golos marcados (10+0+6). Começam a perceber a inconsistência? O SLB apresenta menos de metade dos pontos do FC Porto e marca também menos de metade dos golos. Afinal de contas, o que se passa na Europa com o “grandioso” Benfica que varre os adversários nacionais com goleadas de mãos cheias?

    Tomemos como exemplo também os avançados do SLB**, em especial Seferovic, que termina a temporada com uns bonitos 27 golos marcados, um número que é superior a todos os golos que marcou nas últimas 4 temporadas JUNTAS (125 jogos, 26 golos). Seferovic chega pela primeira vez na sua carreira a uma marca superior a 10 golos. Não lhe parece estranho, caro portista?
    Olhemos então para Jonas, que nos seus verdes anos de Valência acertou 51 vezes nas balizas contrárias em 156 partidas, marcando em 32% dos jogos. No SLB apresenta a fantástica contagem de 137 golos em 183 partidas: marca em 74% dos jogos. Parece incrível que, mesmo num ano onde Jonas se debateu com inúmeros problemas físicos nas costas, apresente um golo a cada 2 jogos. Incrível não é? Então porque é que um avançado que apresenta 15 golos em 31 partidas em 18/19 está prestes a terminar a carreira? Ou, ao invés, o que se passa com os centrais do nosso campeonato para não conseguirem deter um avançado de 35 anos com problemas de costas?

    A lista dos melhores marcadores do nosso campeonato é, também ela, intrigante, não tendo qualquer tipo de paralelo com nenhum outro campeonato europeu: dos 10 melhores marcadores, 4 são do SLB (Seferovic, Rafa, Felix e Pizzi) . O Barcelona coloca apenas 2 nesta rúbrica, o Real e Atlético 1 cada um; na Série A apenas o Nápoles coloca 2 homens na lista de melhores marcadores; na Alemanha o Borussia também consegue colocar 2. Na Europa, apenas o PSG se aproxima do Benfica com Mbappé, Cavani e Neymar (assumo que possam ser piores que Seferovic, Rafa e Felix…) nos 10 melhores marcadores.

    Há muitos vídeos a circular na internet que adensam as minhas suspeitas, mas qualquer olhar atento é capaz de descortinar os incríveis azares que os adversários do SLB enfrentam quando jogam contra o clube da águia. Podíamos começar por Fábio Cardoso (do Santa Clara, que tem vários azares no conjunto das 2 voltas) e terminar em Júnio Rocha e Borevkovic (Rio Ave), passando pelo Nacional de mãos cheias e pelo Braga (4º classificado, refira-se!) que alcança o incrível parcial de 10x3 com o SLB no conjunto das 2 voltas. Mas se recuarmos na temporada, iremos encontrar muitos mais casos deste género: escorregadelas, cortes na atmosfera, recepções desorientadas, passes ao nível da terceira divisão do Cazaquistão, inúmeros azares com consequências dramáticas.

    As minhas suspeitas não são infundadas nem nascem da minha cabeça, caro portista. A comunicação social vem publicitando, embora timidamente, as declarações da testemunha Cássio, jurando em tribunal que ele e os atletas Lyonn e Marcelo foram abordados por um tal de César Boaventura para perderem num jogo da sua equipa de então – Rio Ave – contra o SLB. César Boaventura esse que, segundo Paulo Futre, é grande amigo de LFV e presença assídua no centro de treino do Seixal. Estamos pois em sede do famoso JOGO DA MALA, que vem denegrindo e transformando o futebol português numa lixeira a céu aberto. As palavras de Coentrão no final da temporada causam interrogação. As declarações de Tomané dizendo que a manutenção do Tondela apenas se deve a alguns jogadores e não a todos também deviam alcançar mais destaque. A que é que Tomané se referia? E Coentrão, o que quereria dizer?

    E que dizer das declarações de Petit antes do jogo com o SLB, caro portista? Que dizer da abordagem típica dos treinadores portugueses (ao bom estilo de Pepa) quando defrontam o SLB, afirmando sem vergonhas que este não é o seu campeonato e que vai ser muito difícil conseguir o empate, por contraponto com as afirmações de raça e de ganas quando vão enfrentar o FC Porto, dizendo invariavelmente que é um jogo onde vão dar tudo e onde vão lutar pelos 3 pontos? Porquê tamanha diferença de abordagem aos jogos contra o SLB e contra o FC Porto?

    Face ao que atrás exponho, só posso concluir que o campeonato português regrediu 70 anos num curtíssimo espaço de tempo, sendo prova disso mesmo os cómicos 10x0 ao Nacional e os 6x2 ao Braga na Luz, verdadeiros expoentes máximos da facilidade que o SLB tem quando defronta os seus adversários, atingindo-se a total negação do desporto e competição profissionais. Voltamos, pois, ao tempo do amadorismo. Tudo isto contrasta, uma vez mais, com os adversários motivadíssimos e super-agressivos que o FC Porto enfrenta semana sim, semana sim, onde cada jogo ganho é uma batalha campal, terminando não raras vezes com adversários em lágrimas e fortemente desiludidos. Mas desiludidos porquê, caro portista? Não seria normal perder com o FC Porto que atinge os quartos-de-final da maior competição de clubes do mundo? Ou há algo mais por detrás destas reacções? Será que há alguma motivação extra que justifique tal disparidade exibicional?

    Se isto já não fosse suficientemente mau, temos os árbitros a ajudar à festa. Depois da ida de Veríssimo para a jarra (não deixa de ser cómico que um dos padres vá para a jarra…), nenhum senhor do apito se atreveu mais a incomodar o todo-poderoso SLB. Frederico Varandas disse e bem que depois da jornada 28 começou a falta coragem. Eu sou mais arrojado: depois da jornada 28 começou a faltar vergonha. Podia falar das incríveis actuações dos senhores de negro em Moreira de Cónegos, Braga, Feira e Vila do Conde, com golos em fora-de-jogo, golos anulados aos adversários, penaltys não assinalados ao SLB, etc. No final de um desses jogos, vimos inclusivamente Vítor Bruno (Feirense) a dizer que estava “desiludido com este futebol”. A pergunta que se impõe: mas está desiludido porquê? O que é que Vítor Bruno quer dizer?

    Dizendo isto, fico surpreendido quando ouço portistas dizer que temos culpas na forma como perdemos este campeonato. Mas então não é suposto isto ser uma competição profissional e saudável de 11 contra 11 onde é possível que uma equipa roube ocasionalmente pontos aos grandes? Ou alguém acha normal uma segunda volta imaculada como a do SLB? Começamos a entrar na negação do que é o desporto e a negligenciar a palavra competição. Talvez assim finalmente se perceba a facilidade que Renato Sanches tinha em galgar metros e marcar golos no campeonato nacional e a imensa dificuldade que apresenta por essa Europa fora.

    Para o FC Porto fica talvez a amargura da abordagem ao jogo com o SLB em casa, deixando Militão castigado no banco, Danilo no banco e apostando em Oliver e no inenarrável Adrian López. E talvez uma aposta pessoal excessiva do Mister na Taça da Liga (que se compreende, atendendo ao historia do clube neste troféu), competição que nasceu para ser o tubo de ensaio dos padres e dos lucílios deste país. E poderíamos ainda acrescentar os problemas na lateral-direita, que nasceu torta e nunca se endireitou. Por lá passaram desde a pré-época João Pedro, Janko, Maxi, Corona, Militão, Mbemba e Manafá. Demasiadas indecisões numa posição que se veio a revelar fulcral na luta pelo título, pois foi por lá que Seferovic carregou Manafá em falta e conseguiu o empate no jogo do Dragão. Fica também a impressão de que faltou uma real alternativa à lesão de Aboubakar, visto que Soares não tem categoria para ser o 9 que o Porto precisa nem Marega chega para todas as encomendas.

    Assumindo também os nossos erros, que existiram – não esquecer que não há treinadores nem equipas perfeita! – acredito fortemente que o portista que me lê não se deve deixar intoxicar pela opinião pública. Ao invés de se discutir os diferendos entre SC e as claques, devíamos ver os jornalistas focados no papel que César Boaventura tem no futebol português ou no porquê de Fábio Veríssimo ter ido para a jarra depois do jogo em Braga. A pergunta que deve ser feita: porque é que Veríssimo não ficou definitivamente na jarra depois do assalto que fez ao FC Porto no jogo Feirense x FC Porto da época passada, obrigando Brahimi a berrar a plenos pulmões “nós vamos ganhar”? Porque é que LFV se queixou um dia que Veríssimo não apitava os jogos do SLB? Porque é que um clube tem poder para colocar árbitros na jarra e outros vêm os seus protestos cair em saco roto? Porque é que o senhor director da APAF Luciano Gonçalves – o tal que alegadamente pedia ao SLB 50 bilhetes mais baratos para oferecer ao Centro Recreativo da Batalha – se preocupa com a tarja dos SD e não se foca na prestação dos seus associados nas últimas jornadas do campeonato? Porque é que não há ninguém a discutir os escandalosos “erros” do VAR? Porquê estas incoerências por parte dos organismos que regem o futebol português? Porque é que aquele famoso árbitro da Madeira (Marco Ferreira) foi ao Estádio da Luz pedir uma audiência com Vieira para perceber o que lhe tinha acontecido com a nota? Mas afinal de contas, qual é o verdadeiro poder de Vieira na nossa arbitragem? Porque é que Paulo Gonçalves se encontra a dirigir dossiers de contratações do SLB, mas foi julgado pela Juíza Ana Peres como tendo actuado sem conhecimento e instruções do SLB? Mas que país é este onde tudo o que parece ser, acaba por não o ser? Mas afinal de contas onde para a comunicação social isenta e idónea deste país?

    Caros portistas, sejamos claros: o futebol português é uma lixeira a céu aberto, que alimenta várias bocas a notas de euro em função dos interesses do momento. Nunca como hoje, o futebol português esteve tão manietado, tão comprado, tão desprovido de competição na verdadeira acepção da palavra. Nunca como agora vimos treinadores darem-se como derrotados antes das partidas começarem. Nunca como agora vimos tantos erros de centrais e laterais das equipas pequenas contra os grandes. Nunca como agora vimos tantos clubes comprados e arregimentados em favor de um só clube. Nunca como agora vimos tantas filiais e tantos satélites a jogar na principal divisão do campeonato? Nunca como agora vimos tantas missas rezadas por padres e sacristães. Por isso, volto ao princípio: o Benfica campeão nacional 2018/2019 é uma farsa e uma mentira completa.

    Vivo em Lisboa há alguns anos e, por isso, tenho um conhecimento exacto da forma como pensa o nosso rival. Sérgio Conceição é perseguido pela comunicação social não por ser “javardo” como lhe chamou um ex-embaixador português, mas sim por ter voltado a colocar as nossas equipas a jogar à Porto, a ganhar fases de grupos da Champions, a entrar em qualquer campo, seja onde for, para ganhar. Com SC vemos todo e qualquer jogador a sujar os calções, a comer a relva, a lutar pela vitória até ao apito final, vemos uma equipa unida e com espírito, aguerrida em todas as fases do jogo, vemos um FC Porto focado em todas as frentes, onde a palavra desistir não tem lugar no dicionário. E isso é a marca do FC Porto de Pedroto/Pinto da Costa: uma equipa de faca nos dentes, do até os comemos, que sabe sofrer quando tem que sofrer e que luta os 90 minutos pela vitória em qualquer partida. E é isso que tanto incomoda o nosso rival, ver o FC Porto de novo com a raça pedrotiana, de novo sem medo de atravessar a Ponte Luiz I. E esse Porto à Porto é o que sempre causou inveja em Lisboa. Afinal de contas como é que aqueles parolos lá do Norte conseguem ganhar tantos títulos e tanta coisa lá fora sem a ajuda do poder central? O que é que eles têm que nós não temos? No fundo, o que é indisfarçável é o medo aterrador que têm do FC Porto, dos seus jogadores, do seu Presidente e das suas gentes. Um medo e uma inveja indisfarçáveis e que explicam muito do país que somos.

    Mas para eles tenho uma má notícia: Sérgio Conceição fica no FC Porto.

    Estamos já perto do fim, caro portista.

    Em Game of Thrones, as primeiras temporadas ocorrem sob a expressão em surdina “the winter is coming”. No futebol português, o longo Inverno já chegou e a longa noite em que o luso-futebol está mergulhado alcança tudo e todos, desde clubes-satélites a clubes com ligações a empresários amigos, passando por jogadores emprestados, ex-jogadores que viraram treinadores, chegando até às relações indecorosas entre Salvador e LFV, sócios comparsas em negócios de construção civil. No meio desta salgalhada alimentada a sacos azuis, sobram apenas uns irredutíveis gauleses, que não se deixam subjugar. Situam-se no norte litoral, são daqueles do antes quebrar que torcer e recusam-se a prestar vassalagem ao centralismo que percorre o país de lés a lés. Nessa cidade, apesar de fria e chuvosa por vezes, o longo inverno não chegou. Aí o sol ainda brilha. Um dia, uma amiga espanhola resumiu da melhor forma o que lhe pareceu essa cidade: é como se tivesse estado mergulhada debaixo de água durante muitos séculos e um dia alguém pegou nela e a puxou para cima. Desde aí que dou por mim sentado do lado de Gaia a imaginar uma mão a pegar numa massa de terra colocada debaixo do rio e a puxar um conjunto de casas e edifícios de granito para a tona, que quando emerge surge ainda a escorrer água. O sol brilha. As gotas escorrem e estão prestes a secar. É a cidade dos gauleses. Tem 5 letras. Chamam-lhe Porto.

    Rodrigo de Almada Martins
    *Dados europeus retirados do site oficial da UEFA;
    **Dados nacionais retirados do site ZeroZero.

    Nota final: escrevi no BiBó PoRtO carago!!, a convite do seu mentor, de Agosto de 2012 até 24 de Maio de 2019. São quase 7 anos a discorrer sobre o universo azul e branco. Deixo 149 crónicas, que acabam por ser o espelho do dia-a-dia do clube, destes últimos 7 anos de vitórias e derrotas, mas sobretudo do que significa ser portista e portuense. Tudo o que vi, tudo o que vivi com o FC Porto acaba por estar aqui vertido nestas páginas. Fui imensamente feliz ao fazê-lo. Como diz o filme: por ti fá-lo-ia 1000 vezes. Obrigado a todos.

    NÃO HÁ MAL QUE SEMPRE DURE, NÃO HÁ BEM QUE NÃO SE ACABE. 24/05/2019 15:56 Bibó Porto Carago


    Há cerca de 3 anos fiz um post de despedida, bastante distinto do presente, com o anúncio do término de atividade deste único e magnífico blogue. Na altura, não totalmente convencido com a tomada de decisão do nosso mentor (bLue bOy), senti que o projeto tinha pernas para continuar a sua vida a defender os superiores interesses do FC Porto.

    Apesar de muita resistência e de muita convicção, o nosso mentor lá acabou por ceder às insistências e o blogue reabriu para mais três anos ininterruptos de atividade. Entretanto, entraram e saíram muitos colaboradores que enriqueceram este espaço de excelência.

    Da minha parte, posso dizer que, ao longo de quase 8 anos, colaborei de uma forma entusiástica e criei laços de amizade através deste espaço que perduram e vão continuar a prevalecer ao longo dos tempos. No Estádio, no Dia do Clube, num encontro, na rua, numa celebração ou na TV.

    Foi com grande tristeza que recebi a notícia de que o meu amigo autor do blogue iria dar por terminada a atividade deste espaço, anunciando que a decisão estava pensada, definitivamente tomada e deveras irreversível. É uma decisão que, naturalmente, respeito, que vou aceitar, mas também, ao mesmo tempo, devo dizer que é com grande orgulho, com vaidade e com sentimento de gratidão que termino a minha participação no BiBó PoRtO carago!!

    Há, entretanto, projetos que estão em andamento e outros que irão surgir igualmente. Da minha parte, continuarei em atividade em defesa do nosso clube. A vida continua! A promoção, a divulgação e a defesa do clube estão asseguradas por todos nós e por todos os colaboradores e autor deste blogue. Se cada um der um bocadinho de si em prol do clube de que gostamos, vamos torná-lo mais forte a cada dia que passa, contribuindo para os seus feitos e conquistas.

    O meu muito obrigado a todos os portistas, particularmente aos que seguiram as minhas crónicas ao longo destes anos. Um abraço especial para o nosso líder bLuE bOy, pois sem ele jamais poderia defender, promover e ajudar a divulgar o nosso clube quer no blogue, quer por outros meios.

    Com esta minha última crónica, despeço-me com um até já! Vamos ver-nos por aí.

    Abraços.